Como bem sabemos, Deus costuma se revelar aos humildes e pequenos, e Ele se utilizou de uma simples jovem para lhe revelar a festa de Corpus Christi. Segundo os registros da Igreja, Santa Juliana de Cornillon, em 1258, numa revelação particular, teria recebido de Jesus o pedido para que fosse introduzida, no Calendário Litúrgico da Igreja, a Festa de Corpus Domini.
Com a idade de 16 anos, teve a primeira visão. Via a lua no seu mais completo esplendor, com uma faixa escura que a atravessava diametralmente. Compreendeu que a lua simbolizava a vida da Igreja na Terra; a linha opaca representava a ausência de uma festa litúrgica, em que os fiéis pudessem adorar a Eucaristia para aumentar a fé, prosperar na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento.
Durante cerca de 20 anos, Juliana, que entretanto se tinha tornado priora do convento, conservou no segredo essa revelação. Depois, confiou o segredo a outras duas fervorosas adoradoras da Eucaristia: Eva e Isabel. Juliana comunicou essa imagem também a Dom Roberto de Thorete, bispo de Liége. Mais tarde, a Jacques Pantaleón, que, no futuro, se tornou o Papa Urbano IV. Quiseram envolver também um sacerdote muito estimado, João de Lausanne, pedindo-lhe que interpelasse teólogos e eclesiásticos sobre aquilo que elas estimavam.
Foi precisamente o Bispo de Liége, Dom Roberto de Thourotte, que, após hesitações iniciais, aceitou a proposta de Juliana e das suas companheiras, e instituiu, pela primeira vez, a solenidade do Corpus Christi na sua diocese, precisamente na paróquia de Sainte Martin. Mais tarde, também outros bispos o imitaram, estabelecendo a mesma festa nos territórios confiados aos seus cuidados pastorais. Depois, tornou-se festa nacional da Bélgica.
Milagre de Bolsena
Depois da morte do Papa Alexandre IV, foi eleito o novo Papa, o cardeal Jacques Panteleón. Naquela época, a corte papal era em Orvieto, um pouco ao norte de Roma. Muito perto dessa localidade fica a cidade de Bolsena, onde, em 1264, aconteceu o famoso Milagre de Bolsena.
Em que consiste esse milagre? Um padre da Boemia, Alemanha, que tinha dúvidas sobre a verdade da transubstanciação, presenciou um milagre. Durante uma viagem que fazia da cidade de Praga a Roma, ao celebrar a Santa Missa na tumba de Santa Cristina, na cidade de Bolsena, Itália, no momento da consagração, viu escorrer sangue da Hóstia Consagrada, banhando o corporal, os linhos litúrgicos e também a pedra do altar, que ficaram banhados de sangue.
O sacerdote, impressionado com o que viu, correu até a cidade de Orvieto, onde morava o Papa Urbano IV, que mandou a Bolsena o Bispo Giacomo, para ter a certeza do ocorrido e levar até ele o linho ensanguentado. A venerada relíquia foi levada em procissão a Orvieto em 19 junho de 1264. O Pontífice foi ao encontro do Bispo até a ponte do Rio Claro, hoje atual Ponte do Sol. O Papa pegou as relíquias e mostrou à população da cidade.
Começo da celebração mundial
O Santo Padre, movido pelo pelas visões de Santa Juliana, pelo prodígio e também a petição de vários bispos, fez com que a festa do Corpus Christi se estendesse por toda a Igreja por meio da bula Transiturus de hoc mundo, em 11 de agosto de 1264. Esses fatos foram marcantes para se estabelecer a festa de Corpus Christi.
A morte do Papa Urbano IV, em 2 de outubro de 1264, um pouco depois da publicação do decreto, prejudicou a difusão da festa. Mas o Papa Clemente V tomou o assunto em suas mãos e, no concílio geral de Viena, em 1311, ordenou mais uma vez a adoção desta festa. Em 1317, foi promulgada uma recompilação das leis por João XXII e assim a festa foi estendida a toda a Igreja.
Foi assim que a festa de Corpus Chisti aconteceu, tendo como testemunho estes dois fatos: as visões de Santa Juliana e o milagre eucarístico de Bolsena.